Conflitos entre irmãos no cuidado com pais idosos são mais comuns do que se imagina. Neste artigo, baseado em experiências recorrentes, mostramos como o diálogo estruturado e os acordos familiares podem prevenir rupturas e preservar os vínculos afetivos e jurídicos.

Quando cuidar de quem cuidou da gente vira motivo de conflito

Imagine duas irmãs adultas, com rotinas cheias e opiniões diferentes, tentando lidar com os cuidados da mãe idosa que ainda mora sozinha. Ela continua lúcida, embora já existam sinais de que sua saúde neurológica pode se deteriorar nos próximos anos. Os médicos recomendam supervisão constante. A mãe, porém, resiste: não aceita câmeras, não quer cuidadoras, prefere a privacidade da própria casa.

Essa situação, embora fictícia, é inspirada em muitos casos que já observei ao longo da carreira. É um tipo de dilema familiar que se repete com variações: o idoso quer manter a autonomia, mas os filhos se dividem sobre como agir, quem deve cuidar, quanto deve gastar, quem faz mais.

Na história, uma das filhas prefere preservar a liberdade da mãe e não quer se prender a compromissos fixos de cuidado. Também se opõe a usar o dinheiro da matriarca com profissionais em tempo integral. Já a outra filha acaba assumindo a maior parte da responsabilidade, o que gera desgaste e ressentimento. Ela gostaria de uma divisão mais equilibrada — ou, no mínimo, que os custos com cuidadoras fossem formalizados e considerados no futuro, caso haja partilha de bens.

Como um acordo familiar pode resolver impasses

Apesar das tensões, o desfecho não é um tribunal — é um acordo.

Nesse cenário, as partes envolvidas constroem juntas uma Ata de Entendimentos Familiares. Ali registram, com o consentimento da mãe:

  • que ela sempre terá companhia (familiar ou profissional);
  • que os gastos com cuidadoras poderão ser compensados no futuro;
  • e que sua vontade em caso de piora cognitiva já estará documentada com clareza.

Histórias como essa mostram que nem sempre há um “lado certo”. Muitas vezes, há apenas necessidades diferentes que precisam ser reconhecidas e organizadas com empatia e clareza jurídica.

Por que registrar em documento é uma forma de cuidado

O instrumento do acordo familiar, embora simples, pode ser transformador. Ele não elimina emoções, mas evita mal-entendidos e conflitos maiores — tudo dentro da liberdade contratual que o direito permite entre adultos capazes.

Se existe uma lição que vale destacar é esta: conversas difíceis, quando feitas no tempo certo e com o apoio adequado, podem ser uma forma de cuidado em si mesmas.

Este conteúdo tem fins educativos e é inspirado em experiências recorrentes na prática da advocacia familiar. Nenhuma informação aqui deve ser interpretada como descrição de caso real ou orientação jurídica individual.

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Adriano Ryba e Ana Carolina Silveira

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